PRESSUPOSTOS E SUBENTENDIDOS NA CONSTRUÇÃO DA CAPA DA REVISTA VEJA
Desirée Reinehr Mirapalhete
(CAPES/UCPEL)
INTRODUÇÃO
A construção das capas de veja ocorre em
“condições específicas” e com “finalidades” próprias da atividade jornalística,
preocupada com o conteúdo, o estilo e a composição do enunciado que reflete o
interesse da própria revista. As capas de veja têm uma estrutura composicional que é mantida com o uso constante – semanal –
das linguagens verbal e não-verbal.
Portanto, para fazer a análise,
este trabalho abordará os elementos que conduzem ao entendimento da mensagem
persuasiva da capa da revista Veja juntando essa imagem a
embalagem do sabão em pó Omo, tanto na forma explícita como na implícita. Ou
seja, a situação global que envolve o enunciado, composta
pelo que se diz e pelo que não é dito, de acordo com os pressupostos que
possibilita ao locutor dizer implicitamente algo, recorrendo ao interlocutor
para, juntos, interpretarem o que foi dito e subentendidos, de Ducrot (1987).
1. ARCABOUÇO
TEÓRICO
É válido
ressaltar que na Análise do Discurso o texto é tocado e abordado num contexto
bastante amplo, incluindo todos os interlocutores e suas respectivas bagagens:
a história pessoal, a situação da produção textual e a própria ideologia dos sujeitos.
Assim, o texto dentro da AD não é de forma alguma tido por transparente. Ele é
entendido e aceito como opaco, principalmente a partir da compreensão da
multiplicidade de sentidos que cada texto pode gerar. Nesta hora, é importante
lembrar a proposta de Pêcheux (1999) de que nos discursos não vamos achar
transparência, mas opacidade e um certo mutismo. Portanto, o caminho é o de
marginalizar as significações e procurar sentidos em construção na opacidade do
discurso. Assim fazendo, não estaríamos promovendo a re-significância da significação,
já que isso não diz respeito simplesmente a uma rejeição ao abandono do
“semântico”, contudo é concebida e pensada no contexto teórico-metodológico da
AD – “traduzindo” a língua em seus termos, a ideologia , o discurso ,
e ainda o inconsciente.
“A noção de
memória discursiva exerce, portanto, uma função ambígua no discurso, na medida
em que recupera o passado e, ao mesmo tempo, o elimina com os apagamentos que
opera”. Já que um discurso é sustentado por outros e aponta para o futuro, os
sentidos são produzidos a partir de posições. Neste contexto, a memória
discursiva é presumida a partir de um momento sócio-histórico, fazendo que o
sujeito “migre” de uma situação empírica para uma posição discursiva.
Na relação discursiva
é que as imagens constituem as diferentes posições e assim fazem de fato, algum
sentido. Vale ressaltar que este sentido não está nas palavras, mas antes delas
e depois delas, simplesmente porque palavras remetem a palavras. Além do que,
os sentidos não estão irrevogavelmente dependentes das intenções, mas permeados
e atravessados pelas suas próprias relações com uma formação discursiva
peculiar e com uma memória. Portanto, não existe sentido em si, ele nasce de
colocações de caráter ideológico fazendo com que as palavras mudem de sentido
de acordo com as posições em que são enunciadas, apreendidas a partir do
exterior do discurso.
1.2.
Adjetivação
Adjetivos são
palavras avaliativas, o seu uso comprova que não somos neutros diante do que
estamos vendo, dizendo ou participando. A avaliação revel não um objeto neutro
no mundo, mas um alinhamento que ocorre através do fenômeno por um ator
particular. Através da escolha de determinados adjetivos, os editores se
posicionam em relação ao que publicaram.
1.3. Metáfora
Charaudeau e Maingueneau (2004),
diferentes daquelas da gramática tradicional que classifica a metáfora como
sendo apenas uma figura de linguagem, ou seja, o uso de uma palavra
Ao consideramos
a metáfora como inserida nos discursos, veremos que sua manifestação pode
ocorrer por meio de uma heterogeneidade mostrada que é a incidência sobre as
manifestações explícitas, recuperáveis a partir de uma diversidade de fontes de
enunciação (MAINGUENEAU, 1997).
Ao inserirmos a noção de
formação discursiva, estamos considerando as implicações para o sujeito que
enuncia. Ou seja, ele não é mais a fonte de seu dizer, pois mesmo este tendo
uma intenção, esta não é a garantia de sentido. Para a AD o sentido é o efeito
de sentido entre interlocutores em posições ideológicas, institucionais.
É a partir da formação discursiva na qual esse sujeito se inscreve é que ele
poderá dizer ou citar x e não y. Para entender o dito e a citação, é importante
esclarecer a noção de intertexto e intertextualidade.
Para Maingueneau (1997), a noção de intertexto de uma formação discursiva é entendida
como o conjunto dos fragmentos que ela efetivamente cita e, por intertextualidade,
o tipo de citação que esta formação discursiva define como legítima para sua
própria prática. O autor esclarece também que a intertextualidade pode ser
interna ou externa. A primeira seria quando o discurso se relaciona com
discurso(s) de um corpus discursivo do mesmo campo. Já a segunda se dá quando
um discurso se relaciona com discurso(s) de outros campos.
2.TIPOS DE
LINGUAGEM
2.1. A
linguagem verbal
O discurso guiado pela linha editorial tem
como objetivo provocar efeitos de sentido no leitor, seja de forma explícita ou
implícita. O significado explícito de uma frase é percebido no texto, através
de uma análise gramatical ou lingüística, a questão é perceber como ocorre o enunciado
(particular, individual), que requer uma outra forma de compreensão, quando é
preciso analisar o sentido que lhe está sendo atribuído
Se o posto é o
que afirmo, enquanto locutor, se o subentendido é o que deixo meu ouvinte
concluir, o pressuposto é o que apresento como pertencendo ao domínio comum das
duas personalidades do diálogo, como o objeto de uma cumplicidade fundamental
que liga entre si os participantes do ato de comunicação. Em relação ao sistema
dos pronomes poder-se-ia dizer que o pressuposto é apresentado como pertencendo
a “nós”, enquanto o posto é reivindicado pelo “eu”, e o subentendido é
repassado ao “tu” (DUCROT, 1987).
Para compreender
uma mensagem, é preciso conhecer o que está fora dela, pois a enunciação também
abrange o extraverbal. Uma palavra deve ser analisada
num determinado contexto, que envolva uma situação global, pois “o dito é
apenas um dos elementos do ato comunicativo, onde cabe também o não-dito”
(MACHADO, I.: 1995).
2.2. A linguagem não-verbal
As imagens
também oferecem a possibilidade de diferentes leituras, dependendo da bagagem
do leitor, sua experiência de vida, seu posicionamento em relação ao que está
sendo visto e ainda os recursos utilizados pelo autor da imagem.
Ao significar
algo, uma imagem remete a idéias, sentimentos, interferindo na interpretação do
leitor, transformando esse algo representado, o que é diferente de simplesmente
reproduzi-lo. Com relação ao mundo das imagens, Santaella
e Nöth (2001), afirmam existir dois domínios:
O primeiro é o domínio das imagens como representações visuais e o domínio
imaterial das imagens da nossa mente.
A composição
nada mais é do que a arte de dispor os elementos do tema – formas, linhas, tons
e cores – de maneira organizada e agradável e deve levar em conta que a leitura
dessa imagem, sua conotação, dependerá da forma como chegar ao leitor, pois não
existe um entendimento que seja considerado universal, comum
a todos os leitores, principalmente se os mesmos não estiverem
preparados para a interpretação que farão. Para Lima (1988), essa leitura é
feita em três fases distintas, a percepção, a identificação e a interpretação.
A percepção é puramente ótica: os olhos percebem as formas e as tonalidades
dominantes sem as identificar. Ela é igualmente muito rápida e não ultrapassa
cerca de meio segundo, sendo que o hábito da televisão reduz ainda mais essa
duração, sobretudo nas crianças. A leitura de identificação é uma ação às vezes
ótica às vezes mental, como a leitura de um texto. O leitor identifica os
componentes da imagem e registra mentalmente o seu conteúdo. A terceira fase
que é a interpretação, é uma ação puramente mental. É nesse estado que se
manifesta o caráter polissêmico da fotografia, quando se estabelecem as
analogias, quando se buscam relações entre as imagens e o que significam. Também
fazem parte da linguagem não-verbal as cores e o planejamento gráfico, que
criam sentimentos diferentes em relação à mensagem pretendida e indicam o
caminho de leitura que deve ser seguido pelo olho do leitor.
No caso de Veja,
por exemplo, existe toda uma relação estrutural da capa, que é mantida em todas
as edições, para que a revista seja facilmente identificada por seus leitores
na banca. Dessa forma, como gênero do discurso, a capa de Veja tem uma estrutura estável, que lhe confere uma identidade visual,
o que facilita sua identificação. Os elementos não são dispostos de forma
aleatória, seguem regras de acordo com a movimentação comum dos olhos, que
fazem um caminho de leitura específico dentro da página. De acordo com Silva
(1985), esse caminho segue um condicionamento do olho relacionado à escrita
ocidental, da esquerda para a direita, o que leva o olhar a fazer sempre esse
primeiro percurso, partindo do lado superior esquerdo para o restante da
página.
As cores
utilizadas na composição das capas são escolhidas de acordo com a mensagem
pretendida, pois mexem com a sensibilidade e emoção do leitor. Um ponto
importante para a definição de qual cor utilizar é o condicionamento
generalizado, pois as cores despertam reações esperadas, previstas na grande
maioria dos leitores. É lógico que fatores como idade e contexto
sócio-cultural, entre tantos outros, também influenciam na reação à recepção da
cor, porém, de acordo com a sinestesia (estudo da influência das cores no
comportamento das pessoas), as cores produzem sensações que podem ser
consideradas gerais.
3. CONSIDERAÇÕES
METODOLÓGICAS
Orlandi (1995), a interpretação é uma junção, e a vida é
função da significação e de gestos de interpretação do cotidiano. Sendo assim
não podemos pensar em uma separação entre uso e significado, ou seja, pensar
que os objetos seriam usados apenas pelo caráter utilitário e não em função do
seu significado dentro de um contexto social. Seguindo a idéia da autora, se
considerarmos que diante de qualquer objeto
simbólico o sujeito tem necessidade de dar sentido e que para o sujeito
que fala dar sentido em construir sítios de significância, é tornar possíveis
gestos de interpretação, podemos ver o discurso publicitário como um tipo de
texto facilitador, construtor e manipulador do processo de interpretação.
O processo de
criação de uma propaganda é um evento discursivo que busca gerenciar os gestos
de interpretação do sujeito, usando criatividade e originalidade no processo de
efeitos de sentido. Isso pode ser observado se levarmos em conta que muitos produtos, como é o caso de materiais de
limpeza, são tão parecidos e executam a mesma função, que sem uma diferença
discursiva, promovida pela propaganda, não seria possível uma venda
significativa de uma determinada marca.
Acreditamos que essa diferença discursiva, capaz de consolidar e fortificar
imagem e conceitos, é possível porque a publicidade interpreta um objeto, ou
seja, dá aos objetos um significado além do funcional e do prático, dentro de
um contexto social.
Assim, um modo
de interpretação ou vários modos de interpretação pode ser conferido a um
objeto a partir de uma configuração discursiva que, por se constituir a
materialidade de uma certa memória social, age sobre os centros sensoriais,
emocionais e lógicos do consumidor. Portanto, criatividade e originalidade na
escolha e apresentação de enunciados e/ ou imagens que vêm contribuir com a
construção de sentido, de que a memória social é suporte. A criatividade pode
ser entendida na tensão entre duas forças que trabalham continuamente o dizer:
os processos parafrásticos e os polissêmicos. O
processo parafrástico representa o retorno constante
ao mesmo espaço do dizível, produzindo a reiteração de processos já
cristalizados. O processo polissêmico implica equívoco, deslocamento, ruptura
de processos de significação (ORLANDI
,1995). O sujeito no discurso é constituído pela interpelação ideológica e
representa uma “forma-sujeito”, historicamente determinada. Essa forma sujeito
pode ser diferente nos diferentes momentos históricos.
Primeiramente,
delimitamos um campo discursivo de referência, o qual é constituído por tipos
específicos de discurso. Em nosso trabalho, o campo discursivo de referência é
a capa da revista Veja publicada no dia 31 de agosto de 2005 e a propaganda do
sabão em pó Omo.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O
leitor da revista acredita que esse veículo tem por função, dever e finalidade
mostrar a realidade diária de forma transparente, sem mediações, visando apenas
informar, transmitir os aconteciemtnos ao público. E é por isso e para isso que
ele lê a revista: para ficar informado. O leitor acredita, portanto, que a
linguagem jornalística, exceto nos maus jornais e revistas sob o domínio de
jornalistas tendenciosos, é informativa, imparcial e neutar, tendo em vista
unica e exclussivamente “ a realidade dos
acontecimentos”. De fato, esse é o objetivo da revista. Contudo, a linguagem e
as especificidades da linguagem na esfera jornalística, em seus gêneros e
textos, fatalmente selecionam os aconteciemntos, organizando-os e expondo-os de
maneira a interpretar a “realidade”, a fzer uma leitura, a encaminhar algumas
conclusões.
Na verdade, é levado em conta esssa perspectiva,
ou seja, os aspectos cristalizados pela tradição de recepçãp da revista, de
enfrentamento de sua linguagem e de suas fianlidade, que vamos observar as
formas de cosntrução dessa instãncia de comunicação, tentando identificar,
enter outras coisas, as marcas que conferem ao texto jornalístico e aos vários
generos discrusivos que aí circulam a diemnsão da leitura, interpretação e
cosntrução do mundo e não de linguagem transparente, de veículo neutro de
informação de acontecimentos. Essa postura crítica, que não significa um
posicionamento negativo diante da revista, implica o reconhecimento das
formas de produção, circulação e recepção desse veículo e, necessariamente, a
inclusão do leitor nessas formas. As diferentes revistas prevêem não apenas o
que o leitor espera deles, especialmente credibilidade, mas as formas de
atingir essas expectativas. Assim o leitor deve estar atento às formas de
construção de sentidos e efeitos de sentido que acontecem a partir da
organização do plano de expressão da revista, que visa, necesariamente,
representar a realidade para seu público.comecemos pela atitude simple e banal
de enfrentamento “físico” desse objeto denomindo revista. Na capa são colocadas
em lugar de destaque, de forma bem legível, para que qualquer um possa ver/ler
a principal manchete com um plano de expressão com carcteristicas particulares,
que articula aspectos do discurso escrito e visual. As particularidades de seu
plano de expressão diferenciam-se das de outros veículos pelo fato de tanto a
linguagem verbal quanto a visual estarem acionadas, conjuntamente, de forma a
levar a informação e possibilitar, ou mesmo provocar, a interpretação dos
acontecimentos. Temos de levar em conta que a imagem visual nunca será um
simples acompanhamento do texto verbal, um anexo que pode ser descartado.
Estará articulada com os elementos verbais para produzir um efeito de sentido
que vai além da leitura separada que se possa fazer dos segmentos verbais e dos
visuais. Mesmo em um gênero que se quer objetivo como o jornalístico, tanto em
sua diemnsão textual quanto visual, e especialmente a notícia, que se propõem informar e não
polemizar, despertar ou conduzir opiniões, o projeto visual como um todo pode
produzir efeitos de sentido/ significações que vão além da simples informção, sugerindo interpretações.
O conjunto de elementos visuais-
entendidos como operadores discursivos - favorece uma rede de associações de
imagens, o que dá lugar à tessitura do texto não-verbal. A apreensão dessas
relações, por sua vez, revela o discurso que se instaura pelas imagens.
O discurso, no caso, deixa
antever o trabalho de um sincretismo de imagens (rede de associações) de
caráter ideológico. Trata-se, então, como já referimos anteriormente, da
possibilidade de falar de implícitos no âmbito da imagem. As imagens implícitas
funcionam como pistas, favorecendo a compreensão das associações de ordem
ideológica (o discurso), ou favorecendo a compreensão da narratividade de uma
publicidade, filme, etc, sem se ater exclusivamente ao verbal, mas buscando uma
articulação num plano discursivo não-verbal e revelando a tessitura da imagem
em sua heterogeneidade.
Segundo Mainguenau (2002) é por meio da
enunciação, revela-se a personalidade do enunciador. O discurso não pode ser
analisado simplesmente sob seu aspecto lingüístico, mas como jogo estratégico
de ação e reação, entre enunciador e co-enunciador. Nessa visão, o discurso é
uma forma de ação, pois toda enunciação visa modificar uma situação. Desta
maneira, “a linguagem não é mais pura evidência, já que foge à transparência de
sentido: não tem como primeira finalidade a
representação do mundo, mas torna-se atuante sobre o outro, uma forma de
negociação e instrumento de ação do enunciador sobre o receptor” (PAULIUKONIS,
2003).
A língua constitui a condição de
possibilidade do discurso, é o lugar material em que se realizam os efeitos de
sentido. Assim, podemos dizer que discurso é o espaço em que emergem as significações.
Na construção do sentido, o enunciador dispõe de signos, marcas, traços,
letras. É ele que anima as formas da língua, para, através do discurso, criar
os significados no que diz e no que não diz.
A linguagem que
usamos define nossos propósitos, expõe nossas crenças
e valores, reflete nossa visão de mundo e a do grupo social em que vivemos, e
pode, ainda, servir como instrumento de manipulação ideológica. Na análise do
texto apresentado, buscamos evidências na linguagem e nas escolhas lexicogramaticais que demonstrem o propósito discursivo dos
enunciadores.
Para comprovarmos que esse projeto visual,
independentemente da intenção ou não do produtor ou dos produtores desse texto,
de fato promoveu um efeito de sentido que extrapola a informação.
Desde o
princípio da crise, a revista Veja tem sido a publicação mais agressiva
nos ataques ao governo Lula e ao PT. Sua função, no entanto, como órgão de
mídia impresso de maior circulação do país, tem sido mais importante do que as
dimensões panfletárias de suas edições: é a de fornecer didaticamente uma
narrativa da crise, do seu diagnóstico e de suas soluções. Esta narrativa é a
que tem sido publicamente reiterada pelo ex-presidente FHC desde o início: o
PT, chegado ao governo central do país, montou um "sistema" de
corrupção (no sentido mafioso) de ramificações e proporções inéditas na
história do país, com o intuito de controlar os poderes da República, revelando
a sua identidade de esquerda de sentido totalitário.
É por isso que
tem uma importância decisiva para a disputa de narrativas da crise a edição da
revista Veja de 31 de agosto de 2005. Nela, pela primeira vez, na
chamada de capa, Veja admite o caráter republicano da crise da
democracia brasileira. À manchete "Político artificial", segue a
chamada: "O Brasil tem as campanhas eleitorais mais caras do mundo. Isso
torna a corrupção inevitável e
ajuda a eleger nulidades”. A
questão é: por que Veja, a monolítica revista conservadora e uma espécie
de âncora da crise, abriu uma brecha tão decisiva na sua narrativa de que a
raiz da crise está focada no PT? A resposta é: porque diante da consciência
democrática brasileira e os formadores de opinião é cada vez mais difícil
sustentar a tese de FHC diante das inúmeras evidências que apontam que a raiz
da crise está no próprio funcionamento do sistema político e da corrupção
sistêmica do Estado brasileiro, à qual veio se adaptando nos últimos anos até o
PT, o partido que mais elementos democráticos e republicanos do sistema
político brasileiro incorporou desde a sua origem.
Analisando a manchete : “Político Artificial” e
comparando com o “Omo Multiação”, verificamos que estão em paralelismo, pois
ambos são produtos, feitos com uma finalidade específica e que se fiquefazem em
espuma no primeiro jato de realidade e possuem o mesmo formato de letra e cor
que despertam reações esperadas, previstas na grande maioria dos
leitores.
Nota-se também que por trás do nome da revista sai
um raio que atinge o Político Artificial com isso mostra a ideologia da
posição-sujeito, ou seja, da revista. Uma vez
que, percebe-se que essa posição-sujeito é contra o marketing
eleitoral/político à moda de Duda Mendonça que se presta tão somente a
escamotear os defeitos do candidato e forjar-lhe qualidades.
O marketing político
está envolta desse assunto, pois foi através dele que chegou-se a esses políticos nulidades, ou seja,
políticos produzidos, que gera
corrupção, e viram mercadorias tal como o sabão em pó. Temos de levar em
conta que o marketing é uma concepção
que vem "de fora da política". Sua origem e natureza concentram-se
com o mercado e a economia modernos - seu habitat natural. É no mercado - e
para o mercado - que as sociedades industrializadas e de consumo do século XX -
ditas de "massa" - criaram o marketing como técnica adhoc para gerir as suas novas realidades macrodimensionadas. Produção e consumo, metropolização
e mídia - tudo nelas é grande e complexo e exige novas formas de gestão de
escala. Os eleitorados massivos, em tais sociedades, por analogia - vão exigir
o mesmo instrumental para serem operacionalizados. è assim que o marketing se
associa à política: para atender a uma necessidade histórico-social.
Vemos uma
No que tange a análise lingüística da manchete “ O Brasil tem as campanhas eleitorais mais caras do mundo.
Isso torna a corrupção inevitável e ajuda a eleger nulidades” destacaremos para
fins de análise os adjetivos presentes nessa manchete que são “ mais caras”, “
inevitável” e “nulidades”. Percebemos que “ mais
caras” possui um conceito neutro, ou seja,
de que há um preço “normal” ou “ razoável” para uma campanha eleitoral. Se é “cara”, é porque foge do padrão, é acima do preço
normal. Se é “mais cara” é porque está sendo comparada
com os gastos referentes as eleições
americana. E se são “as mais caras do mundo” temos ainda as
implicações disso, isto é, o que isso representa para o país não só
em termos de custos para a população, mas também em termos de imagem no
exterior. Chega-se a conclusão de que a principal
razão da explosão dos custos são os gastos exacerbados nas campanhas eleitorais
transformando-as numa poderosa mola propulsora da corrupção no país. O ciclo de
degeneração tem início no momento em que são feitas as doações aos candidatos,
algumas feitas por pessoas físicas, mas a grande maioria advém de pessoas
jurídicas que impõe o anonimato como condição para as doações, o resultado para
o partido, é a formação de um vultoso caixa dois. E também outro fator é que boa parte das empresas de publicidade que atendem aos governos
relacionam-se com eles politicamente.
A palavra
“inevitável” aqui é importante: ela indica o caráter sistêmico da corrupção. No
que se refere a “nulidades” refletimos
sobre o que se espera de um político, porque é em função dessa
"formação/representação imaginária" que vai se ter um padrão de político feito pela sociedade que
este seja honesto, digno, que esteja
preocupado com a população, frente ao qual os que são eleitos ( políticos advindos do marketing do espetáculo) são muito
inferiores. Mais do que isso, eles são “ nulos”.
“Nulo” é igual a zero, então eles não existem. Se não existem, como estão lá?
Por que foram moldados, produzidos para conseguirem se eleger.
Por fim sabemos
que os políticos sempre tiveram seus truques para edulcorar a própria imagem
junto ao eleitorado. Getúlio Vargas se apresentava como o “pai dos pobres”.
Jânio Quadros “almoçava” bananas no palanque. A diferença desses políticos para
os políticos artificiais é que o marketing moderno- terceirizado, profissionalizado e elevado aos
limites da ficção- não só passou a forjar nos candidatos qualidades que eles,
mais tarde, provarão não ter como extrapolou as fronteiras das campanhas para
invadir o território do governo.
5.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRAIT, BETH. As
vozes baktinianas e o diálogo inconcluso. In:
Barros & Fiorin (Org), Dialogismo,
polifonia e intertextualidade:
BUSSELLE, M. Tudo
sobre fotografia. Traduzido por Vera Amaral Tarcha.
7. ed. São Paulo: Livraria Pioneira, 1996. In: LÁUA,
Maurílio. A leitura das capas de veja na sala de aula.
http://www.csonlineunitau.com.br/comu/artigo14.html
CHARAUDEAU, P.
& MAINGUENEAU, D. Dicionário de Análise do
discurso. São Paulo: Contexto.
COLLARO, A. C. Projeto
gráfico: teoria e prática da diagramação. 3. ed. rev. e ampl.
São Paulo: Summus, 1996. In: LÁUA, Maurílio. A
leitura das capas de veja na sala de aula.
http://www.csonlineunitau.com.br/comu/artigo14.html
DUCROT, Oswald. O
dizer e o dito. Campinas: Pontes, 1987.
FERLAUTO, C. A.
R. O tipo da gráfica : uma continuação. São Paulo: Rosari,
2002. In: LÁUA, Maurílio. A leitura das capas de veja na sala de aula.
http://www.csonlineunitau.com.br/comu/artigo14.html
KOCH, I. G. V. A
inter-ação pela linguagem. 5. ed. São Paulo :
Contexto, 2000.
KOSSOY, B. Fotografia
e história. 2. ed. rev. São Paulo : Ateliê, 2001. In: LÁUA, Maurílio. A
leitura das capas de veja na sala de aula. http://www.csonlineunitau.com.br/comu/artigo14.html
LIMA, I. A
fotografia é a sua linguagem. Rio de Janeiro: Espaço e tempo, 1988. In:
LÁUA, Maurílio. A leitura das capas de veja na sala de aula.
http://www.csonlineunitau.com.br/comu/artigo14.html
KUBRUSLY, C. A. O
que é fotografia. São Paulo : Brasiliense, 1988. In: LÁUA, Maurílio. A
leitura das capas de veja na sala de aula.
http://www.csonlineunitau.com.br/comu/artigo14.html
MACHADO, I. O
romance e a voz : a prosaica dialógica de Mikhail Bakhtin. São Paulo: Imago
Fapesp, 1995. In: LÁUA, Maurílio. A leitura das capas de veja na sala de
aula. http://www.csonlineunitau.com.br/comu/artigo14.html
MAINGUENEAU, D. Novas tendências em análise do discurso. (trad. de Freda Indursky). 3ª
ed. São Paulo: Pontes, 1997.
___________.. Análise
de Textos de Comunicação. São Paulo: Cortez, 2002. http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno05-10.html
Melo, C. (1999).
Cartas à redação: uma abordagem discursiva. Tese de doutorado
MELO, C. T. V. Deslocamento
de sentido do enunciado “o petróleo é nosso”. Revista Letras,
Curitiba, n. 57, p. 251-269, jan./jul. 2002.
ORLANDI, E."Efeitos do verbal sobre o não-verbal".
São Paulo: Ed. UNICAMP, 1995
_________. Discurso
e Leitura. São Paulo: Ed. Cortes, 2000.
PAULIUKONIS, M.
A. L. Marcas discursivas do enunciador midiático:
casos de modalização autonímica. In: KREZEN,
Sandra. E o silicone recriou a mulher... Uma Análise Crítica do Discurso de
nota sobre famosos em seção de revista. http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno05-10.html
Pêcheux, M. “Papel
da memória”. Em : Achard, P. et
al . Papel da memória (Nunes, J.H., Trad.
e Intr.). Campinas : Pontes, 1999.
_______. Análise
de discurso: três épocas. In: F. GADET e T. HAK, Por uma análise
automática do discurso. Uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Campinas,
Ed da UNICAMP, 1993.
_______. Estrutura
ou Acontecimento, Campinas, SP, Pontes, 1990
SANTAELLA, L. e
NÖTH, W. Imagem : cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Iluminuras,
2001. In: LÁUA, Maurílio. A leitura das capas de veja na sala de aula.
http://www.csonlineunitau.com.br/comu/artigo14.html
SILVA, R. S. Diagramação
: o planejamento visual gráfico na comunicação impressa. São Paulo: Summus, 1985. In: LÁUA, Maurílio. A leitura das capas de
veja na sala de aula. http://www.csonlineunitau.com.br/comu/artigo14.html
www.inilever.com.br
(Omo)