Introdução

 

Este trabalho propõe apresentar um breve estudo acerca das expressões idiomáticas, no qual serão considerados e desenvolvidos alguns pontos que julgamos pertinentes. Sendo assim, o primeiro deles diz respeito ao conceito e a terminologia que, de maneira geral, são os empregados para definir e/ou nomear as formas fixas, entre as quais estão inseridas as expressões idiomáticas; o segundo se refere à importância das expressões idiomáticas seja para o aprendiz de uma língua estrangeira, no caso a espanhola, seja para os usuários da língua e, enfim, o último se refere à necessidade com a qual se depara o professor de selecionar as expressões e a de adotar determinados procedimentos metodológicos que possibilitem que o aprendiz venha a assimilar os usos e os sentidos dessas formas na língua-meta.

Tendo em vista o anterior, pretende-se com este estudo oferecer subsídios teóricos que possam orientar tanto a prática do professor de espanhol bem como a daqueles que se dedicam à formação docente. Conforme já tínhamos mencionado, este artigo se detém em um ponto particular do ensino do léxico, a saber, o das expressões idiomáticas e propõe examiná-lo recorrendo a determinadas noções oriundas da Lingüística, da Lingüística Aplicada e da Didática de Línguas como parte de seu arcabouço teórico. Esclarecemos, igualmente, que no final deste estudo oferecemos as referências completas nas quais nos apoiamos e que consideramos úteis para aqueles que desejem uma primeira aproximação ao tema desenvolvido neste estudo. Ressaltamos, ainda, que notamos uma certa carência de trabalhos na área de ensino/aprendizagem do espanhol direcionados a alunos brasileiros que contemplem as questões metodológicas aqui tratadas. Assim, esperamos contribuir para ampliar os horizontes investigativos, principalmente, daqueles que se dedicam a áreas que envolvem a junção direta entre teoria e prática no que ao espanhol se refere.

Vale dizer que o este artigo é parte do resultado de um estudo bem mais amplo empreendido pelo grupo de pesquisa vinculado ao CNPQ, na área de  Ensino e Aprendizagem de Espanhol, da Faculdade de Educação (FEUSP), da Universidade de São Paulo, coordenado pela professora doutora Isabel Gretel Maria Eres Fernández. Esse estudo foi realizado no período de 2001 a 2003. Os resultados bem como a reflexão ora apresentados somente confirmam a vitalidade e a necessidade de investigações relacionadas com o ensino do léxico e, em particular, das unidades fraseológicas, entre as quais incluímos as expressões idiomáticas, a brasileiros.

 

 

I. Aclarações terminológicas e conceituais acerca das expressões idiomáticas

 

            Neste tópico pretendemos expor algumas breves aclarações, em torno a questões do âmbito terminológico e conceitual, ou seja, esclarecer o que se entende ou se pode entender por expressões idiomáticas. Com o propósito de examinar esses aspectos, faremos algumas considerações a respeito das formas fixas e dos enunciados sentenciosos, a partir de Sevilla Múñoz (1999). Observamos, ainda, que o ora apresentado não esgota o tema e que somente visa expor alguns critérios que possam facilitar o reconhecimento das expressões idiomáticas e como essas se diferenciam das demais formas fixas. Nosso apoio teórico se deve, especialmente, aos seguintes autores, cuja referência bibliográfica completa consta do final deste trabalho: Sevilla Múñoz (1999), Tagnin (1989), Xatara (2001), Penadés Martínez (1999) e Zuluaga (1980).

Quanto às precisões conceituais e terminológicas, Sevilla Múñoz (1999) observa que há uma diversidade de termos para referir-se às unidades que se caracterizam por sua forma fixa como, por exemplo, os seguintes: expressões idiomáticas, modismos, locuções, clichês, frases feitas, refrões, provérbios, etc. Segundo essa autora, há um uso bastante generalizado desses termos e essa atitude se deve ao fato de que as formas aludidas compartilham muitas características. Ora disso decorre uma certa confusão terminológica e conceitual, ou seja, muitas vezes, não sabemos exatamente como defini-las e/ou nomeá-las.

Penadés Martínez (1999:12-14), por sua vez, utiliza o termo unidades fraseológicas, ao referir-se a essas formas e, além disso, menciona como exemplos as colocações, expressões ou unidades pluriverbais, lexicalizadas ou convencionalizadas e as unidades léxicas pluriverbais. Para a autora essas unidades fraseológicas são objeto da Fraseologia. 

Ainda, cabe mencionar o estudo realizado por Tagnin (1989) que examina, entre outros aspectos, a diferença existente entre algumas dessas formas, destacando-se, por exemplo, as diferenças que assinala entre as expressões idiomáticas e as colocações.

Conforme o apresentado, as formas fixas ou unidades fraseológicas são bastante diversificadas entre si. Com respeito à constituição das mesmas, Sevilla Múñoz (1999) nota que contém um elemento abstrato cujo significado final não é resultado da soma dos significados parciais dos seus elementos constitutivos. Esse traço seria a idiomaticidade, nos termos de Zuluaga (1980). Assim, segundo a maior ou a menor presença de idiomaticidade podemos estabelecer diversos graus de sentidos nas e para essas formas e enunciados.Vale assinalar que neste trabalho não examinaremos ou discutiremos as especificidades presentes em cada uma dessas formas, pois transcenderia nosso objetivo. Sugerimos como uma introdução a esse tema a leitura do trabalho de Tagnin (1989), já referido.

Além da idiomaticidade, outra característica aplicada a essas formas é a fixação. Neste sentido, apresentam uma morfossintaxe peculiar que está distante, em muitas ocasiões, das normas estritamente gramaticais, devido a sua memorização e ao seu uso reiterado. Assim, as unidades fraseológicas, entre as quais se destacam as expressões idiomáticas, apresentam uma forma fixa. A partir do mencionado, depreendemos que as expressões idiomáticas, tal como as demais unidades fraseológicas, podem ser caracterizadas por dois traços: o da idiomaticidade e o da fixação.

No tópico anterior apresentamos algumas considerações bastante gerais acerca da dificuldade de conceituação e de caracterização das formas fixas. Contudo, se faz necessário afunilar nossas reflexões para as expressões idiomáticas e com tal finalidade, recorremos a Zuluaga (1980), devido as suas importantes contribuições no sentido de definir a natureza das formas fixas e entre essas, especialmente, a das expressões idiomáticas.

Para Zuluaga (1980) as expressões idiomáticas fazem parte do saber lingüístico da comunidade, ou seja, são formas já incorporadas por uma dada sociedade. A partir do anterior, compreendemos o fato de que sejam formas já convencionalizadas, institucionalizadas e padronizadas. Além desses aspectos, devido ao reiterado emprego em certa comunidade se fixaram de modo arbitrário e são reproduzidas como estruturas previamente feitas. Daí que as expressões idiomáticas se caracterizem pela fixação, pois nelas se suspendeu alguma norma de combinação de elementos do discurso, ou seja, a sua morfossintaxe se define como peculiar, como já mencionamos. Sendo assim, as expressões idiomáticas se destacam por sua própria estrutura material, por sua iconicidade e pelos traços que apresenta, pelos comentários metalingüísticos. Além disso, podem ser empregadas modificadas ou alteradas em sua estrutura interna ou quando utilizadas em combinação com outros elementos presentes no discurso. Em síntese, possuem um sentido literal (a imagem) e outro metafórico (o idiomático ou o semiidiomático).

A partir dos aspectos referidos, dispomos de algumas diretrizes que nos auxiliam tanto no reconhecimento como na identificação das expressões idiomáticas frente as demais formas fixas. Feitos os esclarecimentos anteriores, a seguir, examinaremos, a importância das expressões idiomáticas no ensino, tendo em vista duas questões basicamente: a da sua relevância nos discursos para a compreensão da mensagem, e ainda, como parte da competência comunicativa do usuário da língua.

 

 

II. As expressões idiomáticas no ensino de línguas

 

As expressões idiomáticas têm se revelado como um campo fecundo de nossas investigações e, conseqüentemente, o seu ensino tem sido o foco ao qual nos dirigimos como professores de espanhol e, igualmente, como pesquisadores dedicados ao ensino e a aprendizagem de línguas. Dessa forma, temos articulado nossas reflexões com a prática docente, especialmente devido a nossa área de atuação no curso de Letras, a saber: Língua Espanhola e Teoria e Prática do Ensino de Espanhol.

Vale observar que, embora neste estudo privilegiemos as expressões idiomáticas, as demais formas fixas ou unidades fraseológicas também representam interessantes vias de trabalho de investigação e de aplicação didáticas. Além disso, esperamos que este trabalho possa ser igualmente útil para o ensino de línguas de maneira geral, apesar de muitas de nossas reflexões interessarem, de modo particular, aos que se dedicam ao ensino do espanhol seja nos cursos regulares de línguas, seja nos curso de formação docente.

            Sevilla Múñoz (1999) ao abordar as divergências existentes na tradução das expressões idiomáticas e refrões, no caso do francês para o espanhol, nota que entre as dificuldades com as quais se depara o tradutor, uma delas diz respeito à tradução das formas fixas, ou ainda, dos enunciados sentenciosos fixos. Para essa autora, tanto as formas fixas quanto os enunciados sentenciosos possuem uma estrutura peculiar que os transforma, em certa medida, em singulares. Traduzir esses enunciados - essa singularidade, diríamos - representa um ponto de dificuldade, que tende a agravar-se, ressalta a autora, devido à carência de dicionários bilíngües e multilingües acessíveis aos tradutores na Espanha. Contudo, apesar desse panorama nada alentador, a autora insiste em que não devemos nos furtar de um estudo sistemático dessas formas, na medida em que fazem parte do “caudal expressivo” do idioma e que estão presentes nos mais diversos tipos de discursos. Portanto, a autora conclui que é necessário que o tradutor possua uma competência lingüística que o habilite não somente identificar esses enunciados fixos, mas igualmente comprender-lhes o sentido. Tendo essa competência, o tradutor poderá buscar correspondências na outra língua e não se esquivar diante da dificuldade que representam essas formas.

Considerando-se o exposto nos parágrafos anteriores, podemos comparar (em certa medida) a atuação do professor com a atuação do tradutor. Dessa maneira, o professor e o tradutor necessitam identificar e interpretar certos enunciados e suas possibilidades de sentido. Daí inferimos que tanto um quanto o outro não podem ignorar o fato de que as expressões idiomáticas são elementos constitutivos do discurso e que estão presentes nos mais variados textos. E mais: embora a sua apreensão e o seu emprego, de modo contextualizado e com sentido, possam representar um ponto de dificuldade seja para o tradutor e seja para o professor, em suas diversas instâncias de atuação, é um fato inegável que ocupam um papel de destaque nas mensagens nas quais figuram. No caso do ensino/aprendizagem de espanhol a brasileiros, área a qual nos dedicamos, a sua compreensão e a sua assimilação por parte do aprendiz representam um acréscimo na sua competência comunicativa na língua-meta. Já no caso do usuário de uma dada língua também representam um considerável acréscimo em termos comunicativos e como recursos estilísticos, somente para mencionar dois aspectos de sua relevância. E quanto ao tradutor é suficiente retomar as condições de Sevilla Múñoz (1999) acerca da importância do conhecimento dessas formas para a sua área de atuação.

Porém, além das considerações anteriores, o professor, diferentemente do tradutor, necessita selecionar as formas com as quais operará e definir o procedimento que adotará para que esse conteúdo seja acessível ao aluno e que se consolide na forma de aprendizagem. Assim, deduzimos que um trabalho com as expressões idiomáticas no ensino/aprendizagem deverá levar em conta dois aspectos, mutuamente complementares: uma seleção prévia que contemple a adequação em níveis de dificuldade que certas expressões representam ou possam representar para a compreensão da mensagem por parte do aluno e, ainda, etapas, claramente definidas, que levarão a uma consolidação do aprendido. Ambos aspectos serão mais bem desenvolvidos ao longo do próximo tópico.

 

 

III. Orientações didáticas para um trabalho em aula com as expressões idiomáticas

 

Afirmamos no tópico precedente que o professor não somente necessita reconhecer as expressões idiomáticas, mas também proceder a sua seleção e a escolha de procedimentos didáticos apropriados para que os alunos as assimilem em seus textos orais e escritos, de maneira contextualizada e significativa.

Quanto ao primeiro aspecto, ou seja, o da seleção do léxico (incluindo-se aí a das expressões idiomáticas), sabemos que essa é necessária e que ocorre tanto na comunicação quanto na situação de ensino/aprendizagem. No caso das expressões idiomáticas, sugerimos, por exemplo, que se busque expressões nos mais variados contextos e textos, adaptando-as ao nível e ao perfil dos alunos. Neste sentido, é recomendável realizar uma exploração dessas formas e, em seguida, sensibilizar os aprendizes da língua estrangeira quanto à sua riqueza. Uma das possibilidades de trabalho em aula para facilitar a compreensão das expressões idiomáticas é por meio de contrastes entre o português e o espanhol que se relacionem tanto a sua forma quanto ao seu sentido. Assim, por exemplo, ao indagar a respeito de suas diferenças e/ou possíveis semelhanças, ou mais exatamente, acerca dos elementos presentes nas expressões que possam coincidir formal ou semanticamente numa língua e na outra, o professor fomentará uma reflexão lingüística, motivará os aprendizes a lançar hipóteses e, dessa forma, levá-los a arriscar-se a comparar, a contrastar e a inferir sentidos e usos dessas formas nos diversos e diferentes contextos nos quais essas estão inseridas. Essa sensibilização quanto ao que podem significar as formas em seus usos e contextos é um importante passo para que os alunos possam incorporá-las em seus textos.

Ainda quanto à seleção das expressões idiomáticas, nos valemos da proposta de Xatara (2001), que realizou um estudo a respeito do ensino do léxico, referido à língua francesa. Embora essa autora parta da sua experiência com a língua francesa, consideramos que o modelo por ela empregado também é viável para o ensino do espanhol como língua estrangeira, com a ressalva de que alguns ajustes tiveram que ser feitos tendo em vista a especificidade dessa língua e de nossa área de aplicação. Dessa forma, o exposto neste trabalho é uma interpretação da proposta de Xatara (2001), adaptada por nós para o ensino/aprendizagem de espanhol. Comentamos, a seguir, a proposta da mencionada autora e mostraremos alguns exemplos do espanhol e do português.

Considerando-se o anterior, temos que Xatara (2001) estabeleceu quatro graus ou níveis diferentes, conforme a dificuldade de aprendizagem para os aprendizes Resumidamente temos a seguinte classificação:

            1. expressões de nível 1: incluímos aqui as expressões idiomáticas que tenham equivalência idiomática e literal na língua portuguesa. São construções que, em termos de estrutura, têm correspondência exata em português e em espanhol e, sendo assim, são de fácil compreensão. As expressões desse nível supõem uma maior facilidade para o ensino e a aprendizagem. Por exemplo: acostarse con las gallinas/ dormir com as galinhas.

            2. expressões de nível 2: possuem equivalência semelhante e aproximada em português, ou seja, não têm uma correspondência lexical total ou literal nessa língua.  Além disso, não possuem alteração na sua estrutura, no valor, no efeito comunicativo, ou ainda, no nível de linguagem presentes em espanhol. Por exemplo: hacer la vista gorda/ fazer a vista grossa.

           3. expressões de nível 3: podemos traduzi-las ao português por meio de uma expressão idiomática, embora de estrutura sintática e/ou unidades lexicais bem diferentes daquelas existentes em espanhol. Por exemplo: buscarle cinco/tres pies al gato/ ver pêlo em ovo; procurar chifre em cabeça de cavalo.

            4. expressões de nível 4: não têm equivalência idiomática na língua portuguesa e, sendo assim, temos que traduzi-las por meio de paráfrases ou explicá-las. Por exemplo: llegar y besar el santo/ conseguir na/de primeira.

            A partir dos níveis antes detalhados, é possível definir um corpus de expressões idiomáticas do espanhol, no qual se considere a dificuldade de compreensão dos sentidos dessas formas para o aprendiz. Sendo assim, o professor poderá selecionar ou definir um recorte com o qual trabalhe na aula, com base em alguns exemplos de expressões de nível 1 até alcançar as de nível 4.

Além disso, cada nível a ser trabalhado, por sua vez, poderá obedecer alguns procedimentos facilitadores da aprendizagem, aos quais nos referimos, a seguir, tendo por base as sugestões de Penadés Martínez (1999). Esse aspecto constitui as possibilidades didáticas de trabalho com o léxico, no caso, com as expressões idiomáticas, ponto ao qual nos reportaremos a seguir.

Segundo Penadés Martínez (1999) podemos introduzir as expressões idiomáticas na aula, tendo em mente quatro etapas que serão apresentadas separadamente aqui com o propósito de melhor elucidá-las e que são as seguintes: a) apresentação, b) compreensão, c) utilização e d) memorização. Comentaremos, de maneira sucinta, em que consiste cada uma dessas etapas e, igualmente, ofereceremos algumas sugestões de atividades que poderão ser desenvolvidas ao longo das mesmas. Notamos, ainda, que nossas sugestões poderão ser adaptadas conforme o perfil do grupo e as condições materiais que dispõe o curso. De qualquer maneira, interessa-nos oferecer uma proposta de trabalho que permita ao aprendiz não somente reconhecer e identificar as expressões idiomáticas, mas também assimilá-las e ampliar o seu uso tanto na produção de seus textos orais e/ou escritos.

Na primeira etapa, a da apresentação das expressões idiomáticas, pretende-se mostrar aos alunos as formas previamente selecionadas da maneira mais apropriada e, assim, é necessário levar em consideração os seguintes aspectos: o nível, o perfil dos alunos e do curso. Nessa fase recomendamos adotar certos procedimentos, como, por exemplo, o de propor listas ou elaborar um quadro com as expressões selecionadas que possuam uma base comum, ou seja, com expressões que se refiram a um termo ou campo semântico comum. É o caso, por exemplo, de expressões relacionadas com as partes do corpo humano, cor, comida, etc.

Sugerimos que durante essa etapa sejam oferecidas aos alunos as expressões contextualizadas, a partir de exemplos extraídos de textos jornalísticos, publicitários, literários, canções, etc. A variedade textual é altamente motivadora e ilustra, de maneira concreta, como essas formas funcionam no interior dos textos e os sentidos que produzem no e para a mensagem. Propomos, por exemplo, que se pergunte aos alunos acerca de suas suposições a respeito dos significados das expressões, de modo a que, posteriormente, sejam motivados e conduzidos a deduzir o(s) seu(s) sentido(s). Neste sentido, é possível trabalhar de modo contrastivo, estabelecer comparações entre as expressões do espanhol e as do português. Além disso, se pode aprofundar as diferenças e semelhanças entre as formas, de modo que haja uma participação ativa dos alunos no processo de aproximação e  de sensibilização para o uso e a importância das expressões idiomáticas em termos de produção de sentidos na outra língua.

            Na segunda etapa, a da compreensão, interessa verificar se os alunos são capazes ou não de identificar e/ou reconhecer as expressões idiomáticas e o(s) seu(s) sentidos. Recomendamos, por exemplo, algumas atividades, como: exercícios de relacionar colunas com a expressão em espanhol e sua possível equivalência em português; relacionar a expressão com a sua explicação ou selecionar a alternativa adequada que explique certa expressão. Nessa etapa, é possível solicitar aos aprendizes tarefas tanto individuais quanto grupais.

            Na terceira etapa, a da utilização, convém propor aos alunos que, com o suporte de uma lista de expressões, completem lacunas de algum texto, ou ainda, oferecer-lhes um texto no qual haja algumas opções e explicar-lhes que eles terão que assinalar aquela que seja a mais apropriada à situação e ao contexto. Sugerimos solicitar aos aprendizes que elaborem diálogos a partir de uma determinada situação no qual possam empregar as expressões estudadas. Além disso, é possível pedir aos alunos que produzam relatos orais ou escritos nos quais constem, de maneira contextualizada, as expressões idiomáticas que interessa trabalhar.           

            Na quarta etapa, a da memorização, sugerimos atividades de revisão do conteúdo e das formas das expressões estudadas e, sendo assim, pode-se recorrer a atividades lúdicas, por exemplo.            Essa etapa é crucial no sentido de que permitirá ao professor avaliar a consolidação dos sentidos e do uso das expressões trabalhadas por parte do aluno.

            Apresentamos algumas diretrizes que podem ser úteis para o ensino das expressões idiomáticas na aula de língua espanhola. Convém observar que as etapas mencionadas devem ser articuladas na prática e podem ser adaptadas ao nível (1 a 4) com o qual operamos e somente para fins expositivos foram desmembradas.

Enfim, concluímos com a observação de que o desenvolvido aqui visa oferecer subsídios teórico-práticos tanto a professores quanto aos demais interessados nas questões referentes ao ensino/aprendizagem do léxico, especialmente, das expressões idiomáticas do espanhol a alunos brasileiros.

 

 

Considerações finais

 

Este estudo é resultado de nossas reflexões acerca do ensino das expressões idiomáticas a aprendizes brasileiros de espanhol como língua estrangeira. Neste sentido, apresentamos, de modo breve, algumas considerações que, fundamentalmente, visaram elucidar questões conceituais e terminológicas relacionadas com as expressões idiomáticas. Sendo assim, julgamos pertinentes as observações de certos autores que a esse tema tem se dedicado, especialmente, Zuluaga (1980). Além desse aspecto, tratamos de aplicar nossas reflexões ao ensino, traduzindo-as para dois aspectos: o da seleção das expressões e o modo de facilitar seu ensino e aprendizagem.

Contudo, cabe observar que um trabalho com as unidades fraseológicas pressupõe, igualmente, considerações a respeito das atividades de avaliação e de consolidação do uso dessas formas, elaboração de materiais, uso de recursos, tipologia de exercícios, por exemplo. Esclarecemos, ainda, que em outros estudos elaboramos propostas de atividades didáticas que tiveram em sua base as noções desenvolvidas neste artigo e que se converteram em um importante material didático para o ensino das expressões idiomáticas. Conforme mencionamos, o foco privilegiado foi o ensino das expressões idiomáticas e as considerações metodológicas em torno do seu ensino e, dessa forma, consideramos que o apresentado poderá redundar em outras propostas didáticas que contemplem não somente as expressões idiomáticas como também as demais unidades fraseológicas não examinadas, tendo em vista o recorte teórico definido neste estudo.

Enfim, neste presente texto optamos por situar as expressões idiomáticas como um importante elemento do léxico seja para aprendizes de línguas, seja para os seus usuários e, além desse aspecto, ressaltar as suas possibilidades de trabalho em aula. Dessa forma esperamos haver contribuído para uma sensibilização quanto à importância e fecundidade desse tema de estudo.

Além do mencionado, pretendemos que o desenvolvido aqui possa ser de interesse dos demais profissionais relacionados com o ensino de línguas, seja materna e/ou estrangeira e, de alguma maneira, gerar novas e interessantes investigações acerca da natureza das unidades fraseológicas em sua relação com o ensino/aprendizagem de línguas em nosso contexto e, dessa maneira, suprir, ainda que em parte, a atual carência da área mencionada.

 

 

 

 

 

Referencias

 

 

PENADÉS MARTÍNEZ, I. La enseñanza de las unidades fraseológicas. Madrid: Arco/Libros, 1999.

TAGNIN, S.O.  Expressões idiomáticas e convencionais. São Paulo: Ática, 1989.

SEVILLA MUÑOZ, J. (1999). Divergencias en la traducción de expresiones idiomáticas y refranes (francés-español. Obtido via Internet. http://www.deproverbio.com.Dpjournal/DP,5,1,99/SEVILLA/DIVERGENCIAS.html

XATARA, C.M. O ensino do léxico: as expressões idiomáticas. Trabalhos em Lingüística Aplicada n. 37, p.49, 2001.

ZULUAGA, A. Introducción al estudio de las expresiones fijas. Frankfurt am Main: Peter D.Lang, 1980.